quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Da Sociedade do Parecer à Sociedade do Saber-Fazer (2ª parte)



“Muitos procuram a ciência; Poucos se importam com a consciência. Se puséssemos o mesmo zelo e cuidado a obter consciência, como colocamos a adquirir ciência, encontrá-la-íamos bem mais depressa e conservá-la-íamos com muito mais proveito.”

Bernardo de Claraval

A crise global é real e as dificuldades que se avizinhavam, estão aos nossos olhos. Motivada pela especulação financeira e muita inconsciência, eis a forma do parecer!

Na educação apressou-se a parecer que os níveis de conhecimentos são elevados, quando, segundo fontes credíveis, existiu algum facilitismo instituído ao nível ministerial em exames nacionais. Obviamente o ranking subiu. Parece um contra-senso, promover a inovação e prepararem-se alunos com pouco rigor, quando maiores desafios se avizinham, dando pouco azo à criatividade e confiança na capacidade tutora e pedagógica dos professores.

Estamos atrasados no ensino que já devia ter avançado para o patamar seguinte que deveria estar focalizado na aprendizagem. Fica para segundo plano o saber fazer , dando importância ao parecer. Parece que se quer criar uma sociedade que não pensa por si, onde somos bombardeados por fazedores de opinião, que pensam por nós.

Vivemos no país dos títulos e dos canudos. Vivemos no país que possui excelentes inventores, em que a maioria nem é formada. São galardoados no estrangeiro e não conseguem atrair investimento no seu próprio país. Vivemos no país dos ordenados chorudos para engenheiros e doutores que nunca inventaram nada, e ludibriam o Estado, como tem vindo a público.

Fala-se de inovação e desenvolvimento económico, mas ouve-se falar de jovens com projectos inovadores que são recusados, quando uma grande fatia dos fundos comunitários volta novamente para Bruxelas por insuficiência de encaminhamento das divisas. Coloca-se a questão: estarão as instituições habilitadas a visionarem o potencial de muitos projectos criados por jovens à procura de se lançarem no mercado? Será que a mentalidade que opera nessas instituições não estará desfasada face aos tempos. Existirá outra mentalidade que escapa? Estaremos todos a ser patrióticos?

A ciência deverá ser a aposta para o relançamento económico. Ciência e economia deveriam andar de mãos dadas com a ecologia e a consciência. A falta destas componentes está a produzir enormes retrocessos em Portugal e no Mundo.

A aposta na consciência, a verdadeira educação, produzirá conhecimento e desenvolvimento, pois a procura da primeira (consciência), conduz à segunda (ciência). A ordem inversa raramente produz consciencialização global nos indivíduos.

Aprender é mais vasto e eficaz do que ser ensinado. Dar a cana e ensinar a pescar é tão incapacitante como dar o peixe. Orientar o futuro pescador na construção da cana, estimula-lo na própria obtenção do conhecimento da pesca, em dinâmicas de aprendizagem pessoais (consciência), tornando o futuro pescador em aprendiz e ensinante dele mesmo, é mais perpétuo e rico, como deveria ser a verdadeira educação. Questiono se estamos em condições de aplicar estas metodologias de aprendizagem experiencial que preparam melhor os futuros “pescadores” nas escolas?

Não é desenvolvendo unicamente a cognição com computadores nas escolas, menosprezando outros sentidos da dimensão humana e realidades do saber fazer, que obteremos pescadores conscientes e evoluídos cidadãos para superar a convulsões sociais que se avizinham.


Criado em 29/12/08 e publicado in Badaladas

Sem comentários:

Enviar um comentário