“Vêm até nós como cordeiros mas por
dentro são lobos vorazes”
Eis o momento decisivo para o
honrado e nobre povo se afirmar. É tempo de reagir, pacificamente, de forma a
evitar que os violentos continuem a violar. Tomenos os nossos próprios passos
da cidadania, escrevia eu à meses, percebendo o que ai vinha. Mas passemos aos
actos. Como sugestão, apelo a que as
forças vivas de Portugal organizem uma marcha de todos os cantos do país até
Lisboa. Marchámos por Timor, é hora de marchar por Portugal. Todas as marchas
precisam de um objectivo, por isso, partilho este discurso que não é meu, mas
no qual quase todo o ser humano se retrata, cheio de objectivos.
“Gostaria de ajudar a todos,... Todos nós queremos ajudar-nos uns aos
outros, os seres humanos são assim. Todos nós queremos viver pela felicidade
dos outros, não pela miséria alheia. Não queremos odiar e desprezar o outro.
Neste mundo há espaço para todos e a terra é rica e pode prover para todos. O
nosso modo de vida pode ser livre e belo. Mas nós estamos perdidos no caminho. A
ganância envenenou a alma dos homens, e barricou o mundo com ódio; ela
colocou-nos no caminho da miséria e do derramamento de sangue.
Nós desenvolvemos a velocidade, mas sentimo-nos enclausurados: As
máquinas que produzem abundância têm-nos deixado na penúria.
O aumento dos nossos conhecimentos tornou-nos cépticos; a nossa
inteligência, empedernidos e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco: Mais do que máquinas,
precisamos de humanidade;
Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas
virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
O avião e o rádio aproximaram-nos. A própria natureza destas invenções
clama pela bondade do homem, um apelo à fraternidade universal, à união de
todos nós...em todo o mundo, milhões de desesperados, homens, mulheres,
crianças, vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera
inocentes. Para aqueles que me podem ouvir eu digo: "Não desesperem".
A desgraça que está agora sobre nós não é senão a passagem da ganância,
da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano: o ódio dos homens
passará e os ditadores morrem e o poder que tiraram ao povo, irá retornar ao
povo e enquanto os homens morrem [agora] a liberdade nunca perecerá…
Soldados: não se entreguem aos brutos, homens que vos desprezam e vos
escravizam, que arregimentam as vossas vidas, vos dizem o que fazer, o que
pensar e o que sentir, que vos corroem, digerem, tratam como gado, como carne
para canhão.
Não se entreguem a esses homens artificiais, homens-máquina, com mentes
e corações mecanizados. Vocês não são máquinas. Vocês não são gado. Vocês são
Homens. Vocês têm o amor da humanidade nos vossos corações. Vocês não odeiam,
apenas odeia quem não é amado. Apenas os não amados e não naturais. Soldados:
não lutem pela escravidão, lutem pela liberdade.
No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito: "O reino de
Deus está dentro do homem"
Não um homem, nem um grupo de homens, mas em todos os homens; em vocês,
o povo.
Vós, o povo têm o poder, o poder de criar máquinas, o poder de criar
felicidade. Vós, o povo têm o poder de tornar a vida livre e bela, para fazer
desta vida uma aventura maravilhosa. Então, em nome da democracia, vamos usar
esse poder, vamos todos unir-nos. Lutemos por um mundo novo, um mundo bom que
vai dar aos homens a oportunidade de trabalhar, que lhe dará o futuro,
longevidade e segurança. É pela promessa de tais coisas que desalmados têm
subido ao poder, mas eles mentem. Eles não cumprem as suas promessas, eles nunca
o farão. Os ditadores libertam-se, porém escravizam o povo. Agora vamos lutar
para cumprir essa promessa. Lutemos agora para libertar o mundo!”