segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Rumos


(Re)mar a vocação portuguesa

(Continuação artigo anterior Uma carta a Garcia) Se os governantes conseguissem compreender o que está mal, resolviam melhor os problemas. Não se pode resolver aquilo que se nega. “Ora se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova” (MT 15:14).

Afinal que erros existem para estarmos nesta situação? E porque se persiste nos mesmos? Será porque da direita à esquerda, como disse Frei Fernando Ventura, existem demasiados politicos peneirentos? Que apenas se preocupam em manter o estado de “partidocracia”, isto é, lutar pelo poder para distribuir empregos pelos amigos, e ás empresas a eles associadas?

Penso que estas interrogações estão na base dos nossos problemas. A falta de estratégia e sentido de estado também. Mas essa é fruto do “peneirismo” que abunda. Já afirmei que é preciso passar da sociedade do parecer à sociedade do saber fazer. Isto é, apostar na educação rigorosa, que prepare para a vida activa e deixar de vez as estatisticas e os canudos. São precisos tecnicos, pessoas que saibam fazer! Chega de farsas!

Na esfera do partidarismo português, existem erros, que motivam a escassa participação dos cidadãos. Noutros países da Europa, (mais desenvolvidos), as bases são ouvidas pelas cúpulas. Fomentam o debate aberto sem segragações. Em Portugal passa-se o contrário, são as cúpulas que “ditam” às bases, o que demonstra a fraca cultura democrática e de cidadania existente. Preocupam-se mais em degladiarem-se e esquecem a vocação solidária para com os eleitores e cidadãos. Sem uma cultura universal que incentive a participação, responsabilização e consciencialização, o que esperar? Opina-se e denuncia-se muito, mas não se ouvem ecos...Abundam fazedores de opinião a moldar o sentimento comum. Opinar sim, mas com base em dados rigorosos, com honestidade intelectual. Que dêm a conhecer a génese dos problemas que conduzem a ideias com soluções sustentadas, com solidez.

Outro erro, não se conseguiu fomentar a noção de cidadania Europeia. A prova está na escassez de candidaturas a fundos e intercâmbios transversais que existem em Bruxelas e dos quais apenas 5% a 10% são utilizados. Que vergonha. Pertencemos a um bloco, sofremos por causa disso e poucos conhecimentos temos dessa Europa.

Mais um erro, abandonámos a tradição maritima. Sabiam que Portugal possui a maior plataforma maritima da Europa? Comprámos submarinos para defendê-la, mas que beneficio retiramos dela? Sabiam que países como a Noruega, Reino Unido, Holanda, entre outros, baseiam as suas economias desde 18 a 40% no mar?

Timidamente, lá se vai querendo que Portugal seja o maior país da Europa com 1.600.000 km2 de soberania.

Será que estes rumos irão poduzir eco? Sem medidas base duvido. Seria preciso:

-Aumentar a cultura maritima nos meios educativos e nos grandes grupos empresariais;

-Icentivar e desenvolver a economia baseada no mar.

-Aumentar a exigência e a cultura do rigor de forma transversal, com menos e melhor Estado;

-Promover politicas educativas do saber fazer, (cursos tecnicos) através da investigação, criatividade e inovação;

-Promover a Lusofonia, em circulos internacionais diversificados, aproveitando a criação de lobby;

-Enaltecer a cultura, história e lingua, aquilo que nos destingue e nos torna unicos, na esfera turística e cultural;

-Defender a criação e sustentação dos produtos regionais portugueses com expressão internacional;

-Acrescentar ao usualBusiness, nichos de mercado, identificando e promovendo nacionalmente, oportunidades internacionais;

-Promover politicas que estimulem a solidariedade e o reforço familiar, de forma a promover a natalidade.

São alguns rumos que, ou andam esquecidos, ou estão mal articulados, sobretudo porque existem poucos com a capacidade de levar a carta a Garcia,..Talvez porque nem remar sabem, e nunca chegarão à ilha onde está Garcia. Espero que o leitor tenha lido a obra de Elbert Hubard Uma carta a Garcia.

Criado em 24/11/2010

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Da Sociedade do Parecer à Sociedade do Saber-Fazer (2ª parte)



“Muitos procuram a ciência; Poucos se importam com a consciência. Se puséssemos o mesmo zelo e cuidado a obter consciência, como colocamos a adquirir ciência, encontrá-la-íamos bem mais depressa e conservá-la-íamos com muito mais proveito.”

Bernardo de Claraval

A crise global é real e as dificuldades que se avizinhavam, estão aos nossos olhos. Motivada pela especulação financeira e muita inconsciência, eis a forma do parecer!

Na educação apressou-se a parecer que os níveis de conhecimentos são elevados, quando, segundo fontes credíveis, existiu algum facilitismo instituído ao nível ministerial em exames nacionais. Obviamente o ranking subiu. Parece um contra-senso, promover a inovação e prepararem-se alunos com pouco rigor, quando maiores desafios se avizinham, dando pouco azo à criatividade e confiança na capacidade tutora e pedagógica dos professores.

Estamos atrasados no ensino que já devia ter avançado para o patamar seguinte que deveria estar focalizado na aprendizagem. Fica para segundo plano o saber fazer , dando importância ao parecer. Parece que se quer criar uma sociedade que não pensa por si, onde somos bombardeados por fazedores de opinião, que pensam por nós.

Vivemos no país dos títulos e dos canudos. Vivemos no país que possui excelentes inventores, em que a maioria nem é formada. São galardoados no estrangeiro e não conseguem atrair investimento no seu próprio país. Vivemos no país dos ordenados chorudos para engenheiros e doutores que nunca inventaram nada, e ludibriam o Estado, como tem vindo a público.

Fala-se de inovação e desenvolvimento económico, mas ouve-se falar de jovens com projectos inovadores que são recusados, quando uma grande fatia dos fundos comunitários volta novamente para Bruxelas por insuficiência de encaminhamento das divisas. Coloca-se a questão: estarão as instituições habilitadas a visionarem o potencial de muitos projectos criados por jovens à procura de se lançarem no mercado? Será que a mentalidade que opera nessas instituições não estará desfasada face aos tempos. Existirá outra mentalidade que escapa? Estaremos todos a ser patrióticos?

A ciência deverá ser a aposta para o relançamento económico. Ciência e economia deveriam andar de mãos dadas com a ecologia e a consciência. A falta destas componentes está a produzir enormes retrocessos em Portugal e no Mundo.

A aposta na consciência, a verdadeira educação, produzirá conhecimento e desenvolvimento, pois a procura da primeira (consciência), conduz à segunda (ciência). A ordem inversa raramente produz consciencialização global nos indivíduos.

Aprender é mais vasto e eficaz do que ser ensinado. Dar a cana e ensinar a pescar é tão incapacitante como dar o peixe. Orientar o futuro pescador na construção da cana, estimula-lo na própria obtenção do conhecimento da pesca, em dinâmicas de aprendizagem pessoais (consciência), tornando o futuro pescador em aprendiz e ensinante dele mesmo, é mais perpétuo e rico, como deveria ser a verdadeira educação. Questiono se estamos em condições de aplicar estas metodologias de aprendizagem experiencial que preparam melhor os futuros “pescadores” nas escolas?

Não é desenvolvendo unicamente a cognição com computadores nas escolas, menosprezando outros sentidos da dimensão humana e realidades do saber fazer, que obteremos pescadores conscientes e evoluídos cidadãos para superar a convulsões sociais que se avizinham.


Criado em 29/12/08 e publicado in Badaladas